segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Greve academica de 1907




A Greve Académica de 1907 foi um dos acontecimentos sociais e políticos que mais marcou o governo de João Franco, tendo origem num incidente universitário, rapidamente se transformou num assunto de repercussões nacionais. A contestação estudantil pretendia uma renovação pedagógica, cultural, intelectual e política da Universidade de Coimbra, já há muito que era desejada uma mudança nos métodos de ensino, do foro académico, da burocracia universitária e do conservadorismo ideológico.

A Universidade tem sido um foco constante de agitação e ainda hoje se vive na “ressaca” da greve de Abril de 1907. Bastou então que o filho de um dos heróis do radicalismo, José Dias Ferreira, fosse reprovado nas suas provas de doutoramento para que alguns estudantes e professores iniciassem uma onda de protestos de evidente conteúdo político. Tanto entre o seu corpo docente como entre a população estudantil, a Universidade reflecte pois as divisões que atravessam a sociedade portuguesa. Mas, apesar do seu reduzido número (à volta de três mil), não é fácil para uma parte crescente dos estudantes (sobretudo de Direito) encontrar saídas profissionais, o que explica também o acentuar da turbulência no mundo académico e a radicalização política no seu interior. 1907 traduz o corolário da contestação académica contra o sistema de ensino e o governo. Explode em Coimbra, com a greve dos estudantes, mas rapidamente alastra a outras escolas do país, com destaque para Lisboa. Transformada em causa nacional pelos republicanos, fracassa dias depois.As universidades foram e continuam a ser formadoras das elites intelectuais e políticas dos diferentes países, a Universidade de Coimbra ocupava a posição cimeira dos estabelecimentos de ensino superior. A partir da década de 60 do século XIX que se verificam tensões entre o espírito universitário retrógrado e o espírito académico renovado, assim a Universidade de Coimbra tornou-se nestes últimos anos de monarquia num “espaço de contestação e rebelião, um tempo de aprendizagem revolucionária” (como afirma Manuel de Carvalho Prata na sua dissertação de Doutoramento, A Academia de Coimbra (1880-1926). Verifica-se cada vez mais um distanciamento entre a juventude estudantil e a própria instituição, que estava imbuída num liberalismo conservador de uma monarquia tradicionalista. Depois de na década de 70 terem existido as primeiras manifestações públicas de estudantes republicanos, os anos 80 são marcados por vários protestos estudantis contra o foro académico e em 1890 a Universidade foi palco de patrióticos protestos antimonárquicos por ocasião do Ultimato. Nos primeiros anos do século XX, anteriores à Greve de 1907, houve protestos em 1902 e 1903 contra a política religiosa de Hintze Ribeiro, o que levou à suspensão dos trabalhos escolares após confrontos entre alunos e as forças policiais, em que eram elaboradas cerradas críticas aos processos medievais da Universidade.

“Os académicos da Faculdade de Direito não protestam contra os lentes, não são mesmo eles que consciente e deliberadamente protestam. Quem protesta é o século XX, quem protesta é o século XIX, quem protesta é o último quartel do século XVIII, quem protesta é o Direito moderno com todo o peso das suas conquistas, contra a imobilização bissecular desse instituto, contra a sua organização obsoleta, contra a tradição escolástica e medieval, que converteu o corpo docente numa casta fechada (…) com dogmas doutrinários e preceitos disciplinares absolutamente contrários ao espírito moderno, ao espírito de livre exame, curioso, investigador, por vezes irreverente, mas essencialmente renovador, que essa mocidade representa.”

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