A serraria principal ficava na localidade de Três Barras, atual planalto norte de Santa Catarina, e dispunha de maquinário de alta tecnologia e trabalhadores especializados vindos diretamente dos EUA .Para suprir a grande capacidade produtiva dessa e das outras serrarias, a Lumber comprou uma série de fazendas cobertas de florestas de araucária, mas também habitadas por posseiros que viviam há anos na região. Juntamente com a chegada da ferrovia, essa situação favoreceu um processo de especulação de terras e disputas políticas entre coronéis e posseiros pobres pelo acesso a terra, o que favoreceu a Guerra do Contestado (1912-1916). A questão da Guerra do Contestado já foi abordada por uma série de trabalhos, mas a dimensão ambiental da atuação da Lumber não foi estudada até agora, pois além da atuação violenta contra os caboclos podemos afirmar que houve também uma atuação violenta da empresa contra as florestas de araucária da região.
A história da Lumber no planalto sul-brasileiro está estreitamente ligada a construção da ferrovia São Paulo - Rio Grande, que ligaria Itararé (SP), passando pelo interior dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul até a cidade de Santa Maria (RS). Essa ferrovia significou a possibilidade de vastas regiões do interior dos Estados do sul, bem como Porto Alegre e Montevidéu terem uma conexão ferroviária com São Paulo e Rio de Janeiro. A ferrovia cortou extensas áreas coloniais do sul do Paraná e fomentou a colonização de vastas regiões "escassamente povoadas" do oeste de Santa Catarina, onde há poucos anos – até 1895 - essas terras estavam em disputa com a Argentina, na chamada questão de Palmas ou Missiones. (NODARI, 1999)
Um exemplo da capacidade industrial da Lumber pode ser encontrado nos dados de exportação de madeira para Buenos Aires no período anterior e posterior a instalação da Lumber no planalto Contestado. Em 1906 as vendas de madeira do estado do Paraná para Buenos Aires e Montevidéu, na época ainda bastante incipiente e cuja indústria madeireira era basicamente limitada aos arredores de Curitiba, somavam cerca de 60 mil tábuas de pinho e imbuia e cerca de 8 mil unidades de outros tipos de peças de madeira (vigas, dormentes, pranchões). Essa quantidade de madeira vendida era pequena se comparada aos dados de venda da Lumber para Buenos Aires e Montevidéu poucos anos depois, que alcançavam, tomando como base o ano de 1916 cerca de 15 milhões de pés. (34.950 m³).[8] (MARTINS, 1909, p.10; NOLTING, 1917, p.2)
Essa tendência de utilização da floresta para transformação em produtos madeireiros se intensifica justamente nesse momento, como podemos acompanhar pelos dados a seguir, o que também era viabilizado pela construção da ferrovia:
Exportação de pinho (1911-1967):
COMÉRCIO INTERNACIONAL
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Exportação de Pinho do Brasil
| |
Anos
|
Toneladas
|
1911
|
4.412
|
1912
|
3.736
|
1913
|
11.932
|
1914
|
5.809
|
1915
|
30.719
|
1916
|
71.126
|
1917
|
45.713
|
1918
|
152.021
|
1919
|
71.621
|
1920
|
84.885
|
Década de 1910
|
481.974
|
1921
|
72.036
|
1922
|
100.774
|
1923
|
143.243
|
1924
|
112.907
|
1925
|
95.844
|
1926
|
79.939
|
1927
|
88.791
|
Década de 1920
|
950.296
|
1937
|
205.262
|
Década de 1930
|
1.594.194
|
1947
|
476.412
|
Década de 1940
|
3.766.140
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1957
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769.416
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1967
|
1.053.900 m³
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